O uso do diclofenaco veterinário foi o responsável pelo dramático e abrupto declínio dos abutres do sub-continente Indiano, tendo causado a redução das suas populações em 99%. Um esforço significativo foi desenvolvido para conseguir, com sucesso, banir esta droga naquela região, dada a existência de uma droga alternativa não tóxica para as aves. O surpreendente aparecimento desta droga na Europa, que está neste momento legalmente à venda na Espanha e na Itália e tem sido exportada da Itália para países externos à UE, como a Sérvia e a Turquia, representa uma nova e muito significativa ameaça para as populações de abutres Europeias e cria um precedente que poderá vir a ter um impacto global nos abutres ao nível mundial.
O diclofenaco veterinário é um anti-inflamatório não esteróide que pode ser utilizado para tratar gado bovino. Contudo, o diclofenaco provoca insuficiência renal aguda nos abutres, que culmina na sua morte. Existe, no entanto, outra droga veterinária alternativa, - o meloxican - que não produz qualquer impacto nos abutres.
Nas últimas 3 décadas a utilização do diclofenaco veterinário no sub-continente Indiano levou ao declínio abrupto e massivo de várias das espécies de abutres que ali ocorrem – presentemente apenas subsiste 1% das dezenas de milhões de abutres que ocorriam no sul da Ásia. Os declínios populacionais na Índia no período de 1992-2007 variaram entre 97,5% e 99,9%, consoante as espécies.
Os abutres morrem de colapso renal até dois dias após a ingestão de tecidos de animais tratados com uma dose veterinária de diclofenaco. Na Índia, bastou que menos de 1% das carcaças disponíveis para os abutres contivessem um nível letal de diclofenaco para explicar as elevadíssimas taxas de declínio observadas. O custo para a sociedade Indiana desta crise dos abutres foi estimado em 34 biliões de Dólares americanos para além de ter provocado problemas complicados de saúde pública.
O licenciamento do diclofenaco veterinário para a pecuária em Itália e mais recentemente em Espanha (desde 2013), coloca uma nova e muito significativa ameaça para este grupo de espécies no nosso continente. Infelizmente a obrigatória avaliação de risco para o processo de aprovação desta droga neste dois países não incluiu o potencial impacto nos abutres. O risco em Espanha é especialmente elevado, dado este país possuir o grosso das populações Europeias de abutres – 90% dos grifos, 97% dos abutres-pretos, 85% dos abutres do Egipto e 67% dos quebra-ossos, sendo extensível a Portugal atendendo a que as populações nacionais se distribuem essencialmente ao longo da faixa fronteiriça procurando alimento em ambos os lados da fronteira. Estes alimentam-se regularmente de carcaças de gado que morre nos campos ou em locais de alimentação dedicados às aves necrófagas, que são abastecidos essencialmente com carcaças de gado, que poderão vir a estar contaminadas com este fármaco.
Tendo em conta os impactos provados do diclofenaco nos abutres, os hábitos alimentares dos abutres Europeus, e a sua distribuição e estatutos de conservação, torna-se óbvio que estamos perante uma potencial crise de impacto devastador. Além do mais, esta situação também cria um perigoso precedente para os países Africanos e Asiáticos, que poderiam importar o diclofenaco a partir da Europa.
Algumas associações conservacionistas como a Fundação para a Conservação dos Abutres (VCF – Vulture Conservation Foundation) e a BirdLife International prepararam e enviaram esta semana à UE um pedido formal para banir esta droga veterinária da UE.
A LPN e o Projecto LIFE Habitat Lince Abutre estão obviamente preocupados com esta situação, que poderá potencialmente vir a afectar as populações de abutres que ocorrem em Portugal, duas das quais em situação bastante crítica – o abutre-preto e o britango – e está a agir de modo a compreender de que forma é que este problema pode ser uma realidade no nosso país e o que deve ser feito para evitá-lo.
Pode encontrar uma nota de imprensa e uma descrição mais detalhada desta questão, na qual nos baseamos para a elaboração deste texto, no site da
Vulture Conservation Foundation:
www.4vultures.org/news