Na passada semana tivemos um notável registo num dos campos de alimentação para aves necrófagas implementados pelo projecto LIFE
Habitat Lince Abutre no Sudeste do país!
Em menos de duas horas, todas as espécies de abutres presentes na Europa, com excepção do quebra-ossos Gypaetus barbatus (espécie que não ocorre no nosso país), estiveram num dos campos de alimentação do projecto! Foram eles o abutre-preto (Aegypius monachus), o grifo (Gyps fulvus), o abutre do Egipto (Neophron percnopterus) e o Grifo de Rüppel (Gyps rueppellii)! Para além destas quatro espécies necrófagas obrigatórias, e durante esse intervalo de tempo, registou-se ainda a presença de milhafres-pretos (Milvus migrans).
Este feito deu-se num dos campos de alimentação privados do projecto, localizado na ZPE Mourão/Moura/Barrancos, mais especificamente no concelho de Barrancos. O campo em causa é fornecido com carcaças de bovinos e ungulados silvestres (actividade cinegética) e foi o último de uma rede de dez a entrar em funcionamento, há menos de oito meses.
Abutres-pretos em primeiro plano e à direita e grifo em segundo plano
Os registos obtidos permitem-nos atestar a eficácia dos campos de alimentação privados (em número de nove e distribuídos pelas ZPE’s de Mourão/Moura/Barrancos e Vale do Guadiana), fornecidos de forma irregular e com um menor volume de alimento. Esta gestão conduz, tal como acontecera neste caso, uma menor atracção de grifos (espécie não ameaçada) e uma maior facilidade para o abutre-preto (espécie-alvo deste projecto) em se poder alimentar, tendo sido observados até três indivíduos adultos desta espécie neste período.
Milhafre-preto em primeiro plano e abutre do Egipto ao fundo à esquerda (foto da direita)
A presença do abutre do Egipto, neste caso ainda um juvenil, resulta de uma mais valia da criação deste tipo de campos de alimentação, já que outras espécies ameaçadas para além do abutre-preto, como esta, são beneficiadas pela sua implementação e tipo de gestão praticada.
Na verdade, este foi o segundo registo de abutre do Egipto na rede de campos de alimentação do projecto, já que em Março, neste mesmo campo de alimentação, havia sido observado um adulto desta espécie (
veja aqui).
Grifo de Ruppel em primeiro plano à esquerda e grifos
Igualmente notável, foi a presença de um Grifo de Rüppel – o terceiro registo e o terceiro indivíduo detectado na rede de campos de alimentação do projecto (e sempre em campos diferentes, nos concelhos de Moura, Mourão e, agora, Barrancos).
À semelhança do abutre do Egipto, também aqui se revela a importância que estes campos de alimentação assumem na conservação de espécies ameaçadas, pois tanto o abutre do Egipto como o grifo de Rüppel se encontram ‘Em Perigo’ segundo a lista vermelha da UICN. Adicionalmente, e no que respeita ao grifo de Rüppel, a rede de campos de alimentação permitir-nos-á estudar e medir a evolução desta espécie no seu processo de colonização do sul da Europa.
Abutre do Egipto
É uma espécie estival que pode geralmente ser vista em Portugal a partir de finais de Fevereiro ou princípios de Março. Globalmente as suas populações encontram-se em regressão, estando a espécie classificada como ‘Em Perigo’, sendo actualmente bastante rara na região alentejana, onde é normalmente observada apenas muito esporadicamente.
Grifo de Rüppel
Tem como área de distribuição a África subsaariana. Contudo, o número de registos na Península Ibérica tem tido um incremento na última década, nomeadamente em locais associados a concentrações de grifos em migração (Sagres, na costa Vicentina, e o estreito de Gibraltar, em Espanha). Globalmente as suas populações encontram-se em regressão, estando a espécie classificada como ‘Em Perigo’.
Abutre-preto
Na Europa está presente na Península Ibérica, incluindo Baleares, e nos Balcãs. Depois na Turquia, através do Cáucaso, Irão, Afeganistão até ao sul da Sibéria, Mongólia e norte da China e extremo norte da Índia. Populações invernantes até ao sul do Sudão, Médio Oriente, Paquistão, noroeste da Índia e Coreia. Em Portugal ocorre no Leste e Centro-Sul do território continental, ao longo da região fronteiriça do território continental entre Beira Baixa e o Baixo Alentejo, sendo um visitante esporádico na região do Douro Internacional. Globalmente as suas populações encontram-se em regressão, estando a espécie classificada como ‘Quase Ameaçada’. Em Portugal a situação é mais preocupante, estando classificada como ‘Criticamente em Perigo’.
Grifo
Espécie com distribuição essencialmente Paleártica. Em Portugal é nidificante e residente, mas algumas aves (sobretudo juvenis) migram, realizando movimentos migratórios pós-nupciais para os Estreitos de Gibraltar e de Bósforo e Arábia. Globalmente o estatuto de conservação da espécie é ‘Pouco Preocupante’ e em Portugal ‘Quase Ameaçado’. Embora tanto a sua área de distribuição como a densidade populacional tenham aumentado entre os censos de 1989 e de 1999, a espécie não instalou ainda núcleos estáveis a sul do Tejo.