Visam a melhoria directa do estatuto de conservação dos habitats e espécies-alvo. O seu impacto é monitorizado e avaliado durante o projecto.
Promoção de corredores de habitat de lince-ibérico em olivais
Criação de tocas artificiais para lince-ibérico
Promoção das populações de coelho-bravo por gestão de habitat
Construção e reabilitação de ninhos artificiais para o abutre-preto
Campos de alimentação para abutre-preto
Acompanhamento veterinário dos campos de alimentação para abutre-preto
Prevenção da perturbação das espécies
Promoção de corredores de habitat de lince-ibérico em olivais
No Sítio de Moura/Barrancos, ao longo das últimas décadas, os olivais de exploração intensiva têm vindo a expandir a sua área, substituindo sistemas agrícolas mais tradicionais, causando perda e fragmentação de habitat neste que é um local de distribuição histórica de lince-ibérico e onde ainda existem elevadas densidades de coelho-bravo. Estes olivais são caracterizados por uma paisagem monótona de reduzida biodiversidade, em oposição aos olivais tradicionais que suportam uma grande diversidade de espécies, nomeadamente aves, insectos e plantas. Assim, com esta acção pretende-se criar uma rede de corredores ecológicos por entre os extensos olivais de exploração intensiva, de forma a minimizar o seu efeito barreira, estabelecendo a conexão entre matagais de pequena ou média dimensão e contribuindo para o restauro de um habitat com um elevado valor para esta espécie – o matagal Mediterrânico.
Será a primeira vez que se estabelecerá uma rede de corredores ecológicos em olivais para a conservação de espécies de fauna e flora ameaçadas no Sul de Portugal.
Criação de tocas artificiais para lince-ibérico
De modo a aumentar a disponibilidade de locais adequados à reprodução e promover o estabelecimento de indivíduos reprodutores em algumas áreas do projecto a médio prazo, serão implementadas tocas artificiais em propriedades / zonas de caça onde a presença de lince é ecologicamente possível e bem aceite pelos proprietários / gestores dessas mesmas áreas. Idealmente, as tocas serão criadas a partir de árvores velhas e ocas de tamanho adequado ou, em ocasiões excepcionais, serão construídas estruturas artificiais mais complexas. Será a primeira vez que se realizará este tipo de acção em Portugal.
Promoção das populações de coelho-bravo por gestão de habitat
O Sudeste de Portugal é uma das regiões mais secas e quentes do país, com uma baixa precipitação anual. Consequentemente, a disponibilidade de alimento (nomeadamente de plantas herbáceas) e de água para o coelho-bravo diminui significativamente durante o Verão, afectando a sua taxa de sobrevivência. Além disso, as características do solo são normalmente inadequadas para a construção de tocas e os refúgios disponíveis são escassos. Assim, e particularmente em áreas onde a densidade de coelho é baixa, o fomento de abrigo, alimento e água torna-se muito importante para o aumento das suas populações.
Desta forma, para potenciar as populações de coelho-bravo existentes na área do projecto, serão implementadas medidas de gestão de habitat, como, por exemplo, a implementação de cercas eléctricas em torno de pastagens para coelho (para evitar herbivoria por ungulados silvestres e domésticos), a fertilização de campos de pastagem para aumentar a sua produtividade, a criação de amontoados de terra e vegetação (locais privilegiados para abrigo e reprodução de coelho,
beetle banks) nas margens dos campos de cultivo, e o estabelecimento de cercados em redor de abrigos/refúgios já existentes, de modo a promover a reprodução e sobrevivência do coelho-bravo. Adicionalmente, procurar-se-á incentivar os gestores locais a concorrer a financiamentos / projectos que visem a promoção das populações de coelho-bravo e do seu habitat. Sempre que possível, esta acção será coordenada com medidas implementadas no âmbito de outros projectos nas diferentes áreas de intervenção.
Com estas medidas, a adequabilidade do habitat para o coelho-bravo e para outras pequenas espécies de presa será beneficiada, aumentando as suas populações para um nível adequado à presença do lince-ibérico e do abutre-preto, e contribuindo a médio prazo para o enriquecimento do valor cinegético das áreas intervencionadas.
Construção e reabilitação de ninhos artificiais para o abutre-preto
Esta acção prevê a reabilitação e a construção de ninhos artificiais para o abutre-preto, distribuídos ao longo de uma rede de locais seleccionados de acordo com os requisitos da espécie, criando condições para a sua fixação nas propriedades / zonas de caça com as quais serão estabelecidos protocolos de colaboração. Os factores limitantes para o estabelecimento e reprodução do abutre-preto em Portugal, como a perturbação em períodos críticos do seu ciclo reprodutor, a inexistência de locais adequados à construção de ninhos e a escassez de recursos alimentares, serão mitigados com a implementação de acções específicas previstas neste projecto e com a colaboração dos proprietários / gestores.
Campos de alimentação para abutre-preto
Com esta acção pretende-se criar uma rede de campos de alimentação para o abutre-preto em propriedades privadas (campos de alimentação de exploração), que receberão carcaças de gado doméstico apenas das propriedades onde se encontram localizados e carcaças de espécimes de caça maior (e.g. veado, javali) da(s) zona(s) de caça da propriedade em causa ou da área imediatamente circundante. Esta rede de campos de alimentação de exploração, a primeira do género em Portugal, será implementada nas ZPE de Mourão/Moura/Barrancos e do Vale do Guadiana.
Adicionalmente, pretende-se construir pelo menos um campo de alimentação na ZPE de Mourão/Moura/Barrancos e outro na ZPE do Vale do Guadiana, que possam receber carcaças de diferentes explorações / proveniências. Estes campos de alimentação receberão assim carcaças oriundas de várias propriedades, zonas de caça e/ou vários pontos de origem da região onde estarão localizados e irão fornecer uma maior quantidade de alimento, de forma mais regular, quando comparados com a rede de campos de alimentação de exploração, servindo assim como um complemento dessa rede. A localização e o reabastecimento destes campos de alimentação terá em consideração a rede de campos de alimentação de exploração.
Ao fornecerem alimento suplementar ao abutre-preto, estes campos de alimentação permitirão a fixação da espécie nestas duas regiões – o primeiro passo para a recuperação da população reprodutora de abutre-preto no Sudeste de Portugal. Esta rede também fornecerá alimento suplementar aos indivíduos reprodutores da população espanhola existente junto à fronteira com Portugal (que utilizam territórios portugueses como área de alimentação) e que constituirá, eventualmente, a origem da colonização natural do Sudeste de Portugal por esta espécie.
A construção dos campos de alimentação terá em consideração todas as regras e legislação nacionais e europeias e será efectuada com as devidas autorizações legais das autoridades nacionais de veterinária e de conservação da natureza.
Acompanhamento veterinário dos campos de alimentação para abutre-preto
Esta acção permitirá o controlo veterinário e sanitário das carcaças colocadas nos campos de alimentação, assegurando que os campos não representam perigo à saúde pública e despistando a existência de carcaças de animais portadores de doenças infecciosas, para além de elevadas concentrações de fármacos identificados como perigosos para os abutres.
Prevenção da perturbação das espécies
Uma das principais ameaças ao estabelecimento de populações de lince-ibérico e de abutre-preto, entre outras espécies, é a perturbação causada por actividades humanas, que na maior parte dos casos podem ser compatibilizadas com a conservação da natureza desde que correctamente planeadas e implementadas. Com esta acção pretende-se prevenir estas situações de perturbação, sobretudo em períodos críticos como o período de reprodução. A detecção atempada e a discussão com os proprietários, gestores e entidades envolvidas, de alternativas realistas e viáveis conciliadoras das actividades humanas com a conservação destas espécies, possibilitará o controlo de factores ‘imprevisíveis’ que possam representar um condicionante ao sucesso das acções de conservação aplicadas no projecto.